15/01/2021 - As mudanças no Ministério da Educação durante o governo do presidente Jair Bolsonaro não se limitam apenas ao comando da pasta. Em dois anos, o Instituto nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – órgão ligado ao Ministério da Educação e que é responsável pela realização do Enem já teve quatro presidentes diferentes.
O troca-troca na chefia do Inep se concentrou nos primeiros cinco meses de 2019 e teve demissões por discordâncias de "ideologias", por conflitos internos e até por disputas de poder. O atual presidente do Inep, Alexandre Lopes, está no cargo desde maio do ano passado. Relembre, abaixo, quem foram os últimos presidentes do instituto.
No início do governo Bolsonaro, em 2019, a presidência do Inep era ocupada pela educadora Maria Inês Fini, que havia sido nomeada para o posto em 2016. Ela foi exonerada do cargo em 14 de janeiro de 2019.
Fini já havia atuado no Inep, entre 1996 e 2002, quando participou da criação e implementação do Enem e do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos.
Em 2018, quando ainda não havia assumido a Presidência, mas já havia sido eleito, Bolsonaro fez críticas ao Enem daquele ano por ter trazido uma pergunta que citava o "dialeto secreto" de gays e travestis. Bolsonaro afirmou que a questão não media "conhecimento nenhum".
O Enem 2018 trazia um texto sobre o "pajubá, o dialeto secreto dos gays e travestis" e questionava o candidato quanto aos motivos que faziam a linguagem se caracterizar como "elemento de patrimônio linguístico". Na época da prova, em novembro daquele ano, o Inep não quis comentar as críticas de Bolsonaro.
Já durante a transição de governo, Bolsonaro descartou publicamente o nome de Maria Inês Fini para comandar o MEC, citando o Enem como motivo. "Essa não esteve à frente do Enem? Está fora, cartão vermelho", afirmou.
Ainda em janeiro de 2019, o engenheiro Marcus Vinicius Rodrigues foi nomeado para a presidência do Inep. Ligado aos militares, ele chegou a afirmar que planejava um novo modelo para o Enem, sem questões "ideológicas". Disse ainda que discutiria a possibilidade de Bolsonaro ter acesso prévio às questões do exame.
Rodrigues, no entanto, permaneceu menos de quatro meses no cargo. No fim de março de 2019, ele foi demitido pelo então ministro da Educação Ricardo Vélez Rodríguez. A demissão aconteceu um dia após Rodrigues assinar uma portaria cancelando a avaliação federal de alfabetização de crianças.
"O diretor-presidente do Inep puxou o tapete", disse Vélez ao participar de uma audiência na Câmara dos Deputados, também em março de 2019. Vélez afirmou ainda considerar o cancelamento como "um ato grave, um ato que não consultou o ministro".
Rodrigues, por sua vez, afirmou em entrevistas que, no período em que permaneceu no Inep, nunca havia feito uma reunião de trabalho com o então ministro Vélez e criticou uma suposta falta de comunicação.
No fim de abril, após a queda de Vélez do MEC e a chegada de Abraham Weintraub para o comando da pasta, o delegado da Polícia Federal Elmer
Vicenzi foi nomeado presidente do Inep. Vicenzi, no entanto, teve uma passagem relâmpago pelo comando do instituto: ele foi dispensado do cargo após 18 dias de trabalho. A demissão aconteceu por uma disputa de poder dentro do Inep com a então procuradora-chefe do instituto, Carolina Scherer Bicca.
O conflito aconteceu em torno de uma divergência sobre a transparência de dados do Inep sobre os estudantes do ensino básico e superior. Vicenzi era favorável ao uso dessas informações ára a formulação de políticas públicas. Já a procuradora era contra.
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